Um dia eu cortei o cabelo sozinha.
Esse foi um dia de mudança.
Talvez tenha sido o primeiro dia que comecei a acreditar em mim. Com certeza você também já teve um dia desses. Se não teve também não há motivo para pânico, porque inevitavelmente esse dia virá.
Eu sempre adorei que minha mãe me levasse ao salão para cortar os meus cabelos. Geralmente íamos em grupo - meus irmãos, minha mãe e eu, meu pai cortava sozinho, ele não fazia parte desse momento. Eu me lembro de prestar atenção em tudo, no cheiro típico do salão de beleza, nas revistas com muitas fotos maravilhosas de mulheres maravilhosas com penteados e tamanhos e cores - eram tantas hipóteses e eu me perdia em pensamentos imaginando-me em cada uma delas.
Eu decorei durante muito tempo o passo-a-passo de todo o ato de cortar o cabelo, porque não era apenas cortar, era necessário olhar o cabelo da cliente seco, conversar, saber o que ela queria e confirmar se a interpretação daquilo tinha sido de acordo. Após isto ela era encaminhada àquela cadeira maravilhosa para lavar os cabelos, a cliente se ajusta em relação a altura do lavatório, depois a profissional pede para que levante um pouco a cabeça e coloca uma toalha na altura da nuca. Pronto! Finalmente pode começar então a parte mais maravilhosa de todas, você alí relaxada e alguém lavando seu cabelo, puxando-os de uma forma que você não puxa normalmente no banho. Bom, eu durante muito tempo não queria cortar muito o cabelo, cortava as pontas, mas fazia questão de passar por todo esse ritual. Depois de sair do lavatório então a profissional das tesouras pegava os meus cabelos e os penteava - era tão bom! - subía-os com o pente e cortava e quando cortava eles caiam, mecha após mecha, caíam no ombro. E isso acontecia mais algumas vezes. Eu via tudo em câmera lenta, aproveitando cada segundo daqueles. Como podem ver eu amava ir ao salão de beleza.
Mas as coisas mudam. E mudaram. Eu estava então disposta a fazer em mim mesma todo esse processo de cuidado. Passei a me amar mais porque prestei mais atenção, porque dei tempo pra mim. Com isso concluo que o amor nasce e é necessário um certo ritual de carinho, atenção e tempo.
Precisamos dar mais tempo às nossas necessidades, aos nossos hormônios, ao nosso útero, ao nosso corpo, aos nossos desejos, aos nossos cabelos, aos nossos filhos, ao que desejamos amar com amor. O tempo é a única unidade de medida, como mostrado no filme Lucy.
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